'Não diga ‘não’ à criança', foi o primeiro desafio que tivemos. Essa era a voz da chamada 'psicologia moderna'. Nossa opção, entretanto, para criar os quatro filhos com que Deus nos agraciou foi por uma sabedoria com prática comprovada por mais de 3.000 anos de existência – os conselhos para pais existentes no livro de Provérbios.Reconhecemos que fomos privilegiados pelo convívio com homens de Deus que nos serviram (e ainda servem) de exemplos. Crescemos em meio a uma geração de líderes que nos diziam: fale com sua vida, não apenas com suas palavras!
Em 1969, uma cena marcou para sempre o tipo de pai que eu gostaria de ser – que gasta tempo com os filhos. Eu estudava no Instituto Bíblico Palavra da Vida e um dia vi o diretor, Sr. Davi Cox, marchando com os filhos. Todos usavam chapéus de soldado, feitos de jornal.
Mais tarde, quando criamos nossos filhos, já podíamos ver o resultado positivo desses exemplos que vieram antes de nós, como os filhos da família Cox: firmes no Senhor, criando seus próprios filhos conforme aprenderam de seus pais.
Mas, o que a Bíblia tem a dizer que tanto nos entusiasmou a segui-la? Sucesso na criação dos filhos, se a obedecêssemos: 'Instrua a criança segundo os objetivos que você tem para ela, e mesmo com o passar dos anos não se desviará deles' (Provérbios 22.6).
O versículo não garante a salvação dos filhos, como muitos erroneamente pressupõem; mas garante que a instrução será bem sucedida. O verbo 'instrua' vem da raiz hebraica kake, que significa 'palato', 'céu da boca', ou 'gengiva', e era usada para descrever duas ações diferentes: 1) as parteiras nos tempos de Salomão costumavam friccionar o dedo embebido em óleo de tâmara na gengiva (kake) do bebê para estimulá-lo a sugar o leite da mãe; 2) a segunda ação descreve um domador colocando rédeas no cavalo para servir-lhes de freio na boca (kake), fazendo-o submeter-se à sua vontade.
Portanto, 'instruir' a criança subentende duas ações: criar gosto (por Deus) e amoldar a vontade da criança (que é contrária à obediência a Deus: Romanos 3.10-11).
E de quem é essa responsabilidade? A Bíblia deixa claro que é dos pais. Não é da igreja, como muitos prefeririam: 'Que todas estas palavras que hoje lhe ordeno estejam em seu coração. Ensine-as com persistência a seus filhos. Converse sobre elas quando estiver sentado em casa, quando estiver andando pelo caminho, quando se deitar e quando se levantar'. (Deuteronômio 6.7-8).
E qual é a prioridade para 'instruir' aos filhos o temor de Deus? Vê-los chegando ao reconhecimento de que são pecadores e que precisam colocar a confiança
exclusivamente no sacrifício de Cristo por eles na cruz. E isso ocorre mais naturalmente quando brincamos com eles, ensinamos versículos e princípios bíblicos e quando vêem coerência entre o que ensinamos e o que vivemos.
Foi precioso colher esse fruto na vida de nosso primeiro filho, Bruno, que na época tinha 5 anos. Estávamos passeando, quando senti de Deus que deveria partilhar o plano da salvação com ele. Bruno o compreendeu e colocou em Cristo, aquela fé descomplicada de criança. Hoje, com quase 27 anos e casamento à vista, é ativo na igreja, partilhando sua fé sem constrangimento.
Com os gêmeos, não foi diferente. Lauro tinha 4 anos, quando viajou comigo para um final de semana em que preguei no interior de São Paulo. No domingo pela manhã compartilhei o evangelho com ele que, com fé singela, orou a Jesus confessando que precisava de salvação. Hoje, com 24 anos, é fisioterapeuta. Bastante ativo na igreja, sente ter um chamado missionário.
Enrico tinha 6 anos. Estávamos voltando de Recife quando ele me perguntou do vovô Eros (meu pai). Comecei a contar sobre o vovô e mencionei que ele já estava com Jesus. Enrico disse que quando morresse também gostaria de ir morar com Jesus… e com o vovô! Partilhar o evangelho assim foi até covardia! Ali, Enrico colocou sua confiança em Cristo. Hoje, com 24 anos, é meu sócio no English Center (escola de Inglês). Termina Educação Física neste semestre e também é bem envolvido na igreja.
Leandro teve seu encontro com Jesus durante um culto doméstico. A mamãe havia acabado de partilhar o 'livro sem palavras' e ele, com 5 anos, disse que tinha entendido: 'Jesus está batendo na porta do meu coração e eu quero que ele entre'. Hoje, com 21 anos, também está envolvido com a igreja e cursa Publicidade. Possui uma vocação especial para evangelizar.
Mas não se engane, nossos filhos são normais, enfrentam os mesmos problemas de todos. O investimento feito na vida de cada um, entretanto, permite que se alicercem sobre a rocha, e não sobre a areia (Mateus 7.24-27). Quando surgem escuras tempestades — a Bíblia é para eles 'a lâmpada para o caminho' (Salmo 119.105). E nós pais continuamos à disposição, agora num relacionamento de amigos.
Para finalizar, duas coisas importantes: 1) por decisão pessoal, Jussara optou por não trabalhar e cuidar dos filhos. Essa opção acarretou uma vida financeiramente mais 'justa', mas o resultado foi visível. Quando o caçula tinha 13 anos ela voltou a trabalhar. 2) o fato dos filhos colocarem a confiança em Jesus em tenra idade pode fazer com que precisem de uma confirmação posterior. Isso não deve nos assustar, como pais. O importante não é a data em que a fé foi posta em Cristo, mas o fato dela existir.
Não há recompensa mais gratificante do que investir na vida espiritual dos filhos, inclusive expondo-lhes o evangelho. E não há forma mais real de influenciarmos o mundo com o temor de Deus! E isso destaca algo essencial para os pais que desejam desenvolver a vida dos filhos com Deus – a Graça. Sem essa graça, não se chega a parte alguma na tarefa de criar filhos!